Lembrei‑me de uma velha lenda que, na Bretanha, as
crianças ouvem contar:
Era uma vez uma catedral bonita plantada há muitos
anos na beira do mar. Era a joia da aldeia. O povo gostava dela. E em dia de
festa, mais bonita ficava, cheia de gente, e os sinos dobrando.
Mas, um dia ‑ foi o vento? foi a maré, muito forte?
foram os pecados da gente que irritaram Deus? ‑ o certo é que o mar subiu, e
devorou a catedral. Depois, durante muitos séculos não se ouviu falar mais da
“catedral engloutie”. Mas quando era calma a noite, quando não silvava o vento,
gemendo no arvoredo, nem uivavam os cães na redondeza, se o barqueiro que
singrasse aquelas ondas apurava o ouvido, escutava lá longe, vindo do fundo das
águas, o claro som argênteo de sinos tocando. Eram os sinos da catedral que
dobravam para as suas festas...
Ora, é um pouco assim com cada alma humana.
Quantas vezes esbarramos na vida com um ser abjeto,
cheio de defeitos. Pensamos com asco que nada de sadio existe nele.
Bastaria, entretanto, aguçar o ouvido para escutar,
muito distantes talvez, mas sonoros e cristalinos, cantarem os sinos desta
“catedral engloutie”.
O que é preciso é não desesperar de ninguém. É saber
descobrir em cada coração o reflexo de Deus que ai existe, ainda que esteja
envolto na lama. É saber dar a este mísero desgraçado a possibilidade de
emergir para a vida. Fazer que cantem os sinos da catedral...
A Semente é a palavra
D. Lucas Moreira Neves
Edições Paulinas
São Paulo, SP
2º edição ‑ 1969
Um comentário:
Salve Maria !
Que bela história ! Realmente os sinos são este sinal que nos remetem ao chamamento Divino.
Neste sentido os Arautos, como anunciadores, se assemelham a sinos que nos chamam a ouvir a Voz de DEUS.
Que Maria Santíssima abençoe esta semana de trabalho e estudos do Eremo da Ordem Segunda em Nova Friburgo.
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