sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

O Diário de um Penitente

             O início de um ano é sempre acompanhado de esperanças e apreensões. “O que virá pela frente?”, “Que ‘batalhas’ teremos que enfrentar?”,  “ Quantos pontos temos que nos corrigir...”. E muitas vezes a ansiedade toma lugar à virtude da confiança na Providência.

O cristão tem na Santa Igreja a bússola que o conduz ao caminho certo, e o apoio incalculável dos Sacramentos. Ainda que nossas dificuldades e faltas sejam numerosas, a esperança e confiança na misericórdia Divina devem povoar nossos corações com o ânimo de seguir em frente, até o dia mil vezes feliz em que nos encontraremos face-a-face com Deus e já não pecaremos mais.
Há muitos anos um ilustre conferencista brasileiro narrou o fato abaixo, lido por ele num livro de escritor francês. Transmitimo-la aos leitores, tendo em vista seu valioso conteúdo moral.
Como turista inteligente, caminhava calmamente esse escritor pelas ruas de Roma, a Cidade Eterna”, sem plano pré-estabelecido, “sentindo” os lugares densos em cultura e tradições, analisando os grandiosos monumentos, as pitorescas ruas e praças.

Andando, por assim dizer, sem rumo, aconteceu-lhe de passar pelos fundos de uma das inúmeras igrejas da cidade pontifícia e de notar por mero acaso, gravada na pedra, uma inscrição que lhe despertou a curiosidade. “Será o memorial do arquiteto que construiu o edifício sagrado? Ou será obra de algum vândalo?” - pensou ele.
             Aproximou-se e, logo de início, notou o detalhe da letra quase artisticamente desenhada. Leu a primeira frase: “”Hoje, 25 de agosto, pequei. Mas, graças a Deus, já me confessei.” Emocionado, constatou o escritor que a inscrição era o diário espiritua” de um pecador arrependido e decidido a marcar na pedra, para todos os séculos, seu testemunho de luta, humildade e gratidão.

Logo a seguir, igual gemido de alma: Hoje, 26 de agosto, tornei a pecar. Mas já me confessei, graças a Deus.”
            Sucediam-se assim as frases, sempre iguais na substância, com ligeiras variações na forma. Mas com um detalhe importante: à medida que passava o tempo, ia ficando maior o período entre uma queda e outra. De quase quotidianas no princípio, passaram a ser semanais, mensais. Depois, vários meses sem pecar.

Por fim, nosso turista-escritor chegou à última frase, um verdadeiro brado de vitória e gratidão: Hoje, 13 de março, faz um ano que não peco. Deus seja louvado!”
             Comovido até as lágrimas, teve ele vontade de ajoelhar- se e oscular aquela relíquia de uma alma que, em vez de desanimar à vista de sua fraqueza, confiou na misericórdia de Deus, perseverou na oração, pela qual obteve as graças superabundantes para lutar com êxito até alcançar vitória completa.

Bendito, certamente, é o sangue dos mártires derramado no Coliseu e em tantos outros lugares da Terra. Benditas também as confissões gravadas nesse diário” de pedra, as quais nos trazem vivamente à memória o livro “Confissões”, do grande Doutor da Igreja, Santo Agostinho.

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