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Santa Teresinha aos 8 anos |
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Com 15 anos ela fez um penteado para parecer mais velha e conseguir autorização para entrar no Carmelo |
Um caminho para os
menos fortes
Quando Santa Teresinha
surgiu, as pessoas já estavam profundamente infiltradas de Revolução e,
portanto, sem a coragem e disposição para lances heroicos de virtude. Por
desígnio da Providência, ela abriu às “pequenas almas” (como as chamava) o
caminho para o Céu.
Trata-se da via do
reconhecimento da própria fraqueza e da ausência de coragem, de força de
vontade para enfrentar imensos sacrifícios. E da convicção de que Nosso Senhor
se compadece das almas fracas, diminutas em comparação com as do passado, e que
assiste àquelas com bondade, afabilidade, abundância de graças que substituem
nelas, vantajosamente, aquilo que a natureza não lhes proporcionou.
Quer dizer, para as pessoas
dos séculos anteriores atingirem o pleno amor de Deus eram necessários —
valendo- me de uma expressão inadequada — tantos quilowatts de sofrimentos.
Porém, as do tempo de Santa Teresinha, e a fortiori as
de nossa época, são incapazes de suportar tais graus de ascese. Então, a rogos
de Maria Santíssima, a graça lhes concede vigor para carregar menores
quantidades de cruzes. Porém, elas o fazem com tanta intensidade de amor que
acabam suprindo a quota de sofrimentos
pelos quais não suportariam passar. Pois aos olhos de Deus, o importante não é
o quilowatt da dor, e sim a intensidade de amor com que é padecida.
Dessa sorte, o que as
grandes almas conquistavam apenas no fim de sua existência, depois de muitos tormentos,
as da pequena via recebem gratuitamente logo no começo da vida
espiritual, unindo-se a Nossa Senhora, à Santíssima Trindade, por uma
particular bondade de Deus. Esta graça encurta o caminho e faz o amor nascer
cedo, tão veemente que, com uma “quilowatagem” menor de sofrimento, brilha com
uma luz fulgurante.
Admirável exemplo
de Santa Teresinha
O modelo característico
dessa via foi a própria Santa Teresinha do Menino Jesus, uma pequena alma típica,
cônscia de sua incapacidade de suportar grandes sofrimentos. Entretanto,
recebeu ela tal intensidade de amor a Deus que, desde menina, fidelíssima à sua
vocação, fazia meditações e amava tanto as coisas do Céu que sobrepujava em
virtude a um número incontável de pessoas.
Levou uma existência de
verdadeiro sofrimento no Carmelo de Lisieux, tendo sido acometida por uma
provação muito frequente no claustro, embora no seu caso se apresentasse mais
profunda: a aridez contínua, devido à qual ela não sentia consolações na
piedade, nem no imenso amor a Deus que possuía.
Nessa situação, própria a
afligir qualquer um, ela sempre manteve confiança cega na Providência, e
reafirmava a cada instante seu desejo de morrer como vítima do amor misericordioso de Nosso Senhor para com aqueles que seguem a pequena via.
E, de fato, certa noite,
quando já se achava deitada para dormir, Santa Teresinha sentiu o peito
incomodado e expeliu uma golfada. Veio-lhe logo a idéia de que poderia ser sangue,
indício da fatídica doença daquela época, a tuberculose. Essa enfermidade
tornou-se comum em fins do século XIX, e a medicina não lograva combatê-la
eficazmente, pois não descobrira ainda os medicamentos existentes hoje. Assim, grande era o número de
vítimas dessa moléstia.
Ora, Santa Teresinha
experimentou tal alegria diante da hipótese de estar tuberculosa, que ofereceu
a Deus o sacrifício de não examinar de imediato o lenço sobre o qual golfara
durante a noite, e fazê- lo apenas na manhã seguinte, à luz do dia. Verificando
depois ser mesmo sangue, transportada de júbilo, ela compreendeu que sua
derradeira paixão começava.
Manifestou-se desse modo a
tuberculose, doença lenta, trágica sob vários aspectos, sobretudo naquele tempo,
quando tantos dela sofriam e morriam. Era, pois, uma via comum, na qual a noite
escura e o abandono se tornaram cada vez maiores.
Santa Teresinha passou a ser
provada com tentações contra a Fé (também assíduas na vida dos santos), e
chegou a afirmar serem estas tão violentas que só acreditava porque queria
crer, tanto as razões de fé se tinham obnubilado em seu espírito. Sentia que
estava morrendo, e na Terra nada mais havia para ela. Porém, a morte vinha aos poucos,
a conta-gotas, no meio do sofrimento e da dor.
De seu leito, ouviu um dia a
conversa entre duas freiras sobre seu fim próximo, e este comentário: “Quando falecer nossa Irmã Teresa do Menino
Jesus, e for preciso escrever uma circular às demais comunidades contando como
transcorreu a vida dela no claustro, não sei realmente o que será narrado.
Porque ela não fez nada. Ao longo dos anos passados aqui, realizou apenas
coisas pequeninas... ”
Nossa Santa sentiu-se
consolada ao ouvir essas palavras, pois de fato ela oferecera somente
sacrifícios menores a Nosso Senhor, que os recebia por meio de Nossa Senhora.
Entretanto, devido ao amor com que eram aceitos, o Redentor os acolhia com sumo
agrado. Assim, ela salvava um incontável número de almas. Ela abria dessa forma
a pequena via.
Então, uma característica da
espiritualidade de Santa Teresinha é esse modo de oferecer as dores comuns do dia-a-dia,
as quais Deus pede habitualmente a todo mundo. Porém, trata-se de oferecê-las
como o fez a vítima do amor misericordioso de Nosso Senhor.
Uma inundação de
graças...
Santa Teresinha nunca se
vira favorecida por graças místicas extraordinárias, como visões ou revelações.
Até que no último momento de sua vida foi arrebatada num êxtase, ficou
transportada de alegria, ergueu-se na cama e disse palavras de entusiasmo
diante daquilo que via. Depois, reclinou-se e expirou. Seu corpo jazia nesta
Terra, mas sua alma já ingressava na eterna bem-aventurança.
Dentro da extrema pobreza
carmelitana, seus funerais foram esplêndidos, porque um quintessenciado aroma de
violeta, procedente não se sabe de onde, dominou literalmente o lugar em que o
corpo dela se encontrava exposto à visitação pública. Como uma de suas
primeiras intercessões junto à misericórdia divina, obteve a conversão da
superiora de seu convento, que tanto a tinha amargurado.
De lá para cá, Santa
Teresinha inundou o mundo com graças, sendo considerada a mais solícita em
atender os pedidos feitos, inclusive os relativos aos bens terrenos. Nesse sentido,
célebre é o caso passado em um convento na cidade de Galípoli, na Turquia. Essa
comunidade se achava em grandes apuros financeiros, sem nenhum dinheiro para pagar
suas despesas. A superiora implorou então o auxílio de Santa Teresinha: no dia
seguinte, ao abrir o cofre da casa, encontrou a quantia necessária e mais
ainda...
Obtendo-lhes donativos
materiais, Santa Teresinha atrai as almas para que peçam bens espirituais. E
ela as atende.
Destinada a
socorrer a Terra
Em diversas ocasiões
pronunciou ela essa linda frase: “Passarei meu Céu fazendo bem sobre a Terra”.
E também afirmou: “Só estarei inteiramente livre das coisas da Terra depois que
o número dos eleitos estiver completo”. Se pensamos que esse total dos
escolhidos só será atingido no fim do mundo, esse dito significa que ela
intervirá em nosso favor enquanto houver homens atuando na Terra.
Foi, portanto, uma Santa
especialmente designada pela Providência para fazer grande bem à Terra. Muitos eleitos
há cuja memória, por assim dizer, desaparece, perde-se, devido à versatilidade
humana. Algum benefício eles fazem, porém menor se comparado com o realizado por
uma Santa que vai para o Céu com o programa de continuar a agir intensamente
nos acontecimentos terrenos, apenas repousando quando o número dos escolhidos estiver
completo.
Alegria com a felicidade dos habitantes do Céu
Alguém poderia objetar: “Dr.
Plinio, sinto-me um pouco insultado pensando em meus sofrimentos aqui no mundo,
nesse vale de lágrimas, e o senhor anuncia que Santa Teresinha, já muito feliz,
recebeu uma felicidade a mais no Céu. Parece uma distribuição desigual dos dons
divinos... ”
Ora, os planos de Deus não
são igualitários, e, sobretudo, os relativos aos que estão no Céu e na Terra.
Permanecemos aqui para sofrer e expiar, e os santos no Paraíso para desfrutar a
verdadeira felicidade. Se padecermos, lutarmos e expiarmos bem, seremos também
daqueles que irão para o Céu, felizes por toda a eternidade.
Dessa maneira, há uma
inteira proporção, não igualdade, entre a nossa desventura e a ventura de Santa
Teresinha.
Mais. Devemos nos rejubilar
com todos que se acham no Paraíso, pois nos precederam nesta Terra com o sinal da
Fé. Viveram antes de nós com o signo da Cruz. São nossos irmãos em Nosso Senhor
Jesus Cristo, em Nossa Senhora, e nos cabe desejar a alegria deles: a
felicidade de um irmão interessa a outro irmão.
Por fim, cumpre
considerarmos que, ao ver nosso contentamento pela felicidade dela, Santa
Teresinha há de se tornar particularmente propensa a nos alcançar graças cada
vez maiores. Do Céu, ela nos acompanha
com afabilidade, com um sorriso todo dela, e dirige à Santíssima Virgem uma empenhada
prece por nós: para que aumente nossa fé, nossa crença, nossa esperança e nosso
gáudio com as glórias futuras que nos aguardam na venturosa eternidade, junto a
ela e aos Sagrados Corações de Jesus e Maria.
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Santa Teresinha pouco antes de seu falecimento |
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Relíquia de Santa Teresinha - Carmelo de Lisieux |
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